domingo, 29 de novembro de 2009

...ando pelas esquinas,já tão vazias de ti.


Ato dois..
não há queda. Escrevo.
Pauta já não tão simples.
Dor? Devaneios? Não, não..
Mas não me perguntes
o tom desta poesia,
apenas sinta-a nua
em tua boca..
.
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...
A terra canta
profícuos gemidos
da insanidade humana,
matizes perdidas
voraz destruição
alma terra homem
alegrices
grãos cósmicos
poeira
nada
gritos difusos
sonoros sacrifícios
homem terra a-l-m-a..

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Temporal


João esta só. O dia chega e ele contempla o sol, o azul do céu, o canto das árvores, o sorriso dos pássaros. A noite se aproxima em seu galope sereno. João continua só; e, em sua solidão, penetra nos mistérios da escuridão. o seu silêncio não é só seu, mas esta a dominar as ruas, a praça, as pessoas e os pensamentos de tontos transeuntes que disparam em todas as direções. Escaças pessoas se aventuram há cruzar por entre seus sonhos.
João dorme. João come. João deixa-se atrair por Morpheu. joão vomita escaças palavras aos transeuntes que desfilam o olhar sobre sua face em um misto de piedade, educação e desconfiança.
As vezes o homem grisalho, pele encardida pelo tempo, olhos cansados se permite perder-se entre seus passos. E na solidão da noite, entre confusas vozes, silenciosos desejos, vai ao encontro de seus dias, ora descobrindo-se, ora perdendo-se em si mesmo em um temporal de recordações e ilusões que como seu rastro ficaram pelo caminho na poeira dos anos..

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ler Saramago ou não ler?



Não gosto de Saramago. E odeio não gostar de Saramago. Entendam-me. O autor Nobel é chato. Chato? Sim, ele revela-nos o que não queremos que venha a luz. Ele cava fundo a alma do ser humano. Ele se opõe aos maniqueísmos de uma sociedade galgada em purulentas mentiras. Ora enraizadas na essência humana, ora emanadas dos porões de uma igreja secular que há tempos impede a evolução da humanidade em uma sociedade mais pura de superstições e misticismos oportunistas. Não, não sou contra a igreja, só falo pela libertação de amarras seculares.
Mas não desviemos do assunto: Saramago. Li a crônica publicada na última edição sobre a decepção do cronista com o autor. Saramago causa isso. E resolvi discordar do seu ponto de vista. Respeitosamente, é claro.
Primeiro Saramago não questiona a Bíblia. Ele a revela. Não uma revelação hipócrita, mas o que de fato é. Um livro quase perverso. Não penso que seja de hoje que o velho escritor resolveu voltar-se contra o “grandioso livro”, pois há tempos que ele ergue a bandeira do ateísmo. Seu “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de 1991 ainda hoje causa calorosas discussões e de fato é o único que pode despertar um agravo a cristãos mais efervescentes. Mas não é apenas contra as religiões que ele se volta. Em “O ensaio sobre a cegueira” de 1995, Saramago volta-se contra a condição humana tornando o homem em animal selvagem quando as condições o permite.
O escritor, que já brincou com a morte em seu “As intermitências da morte”, em 2005 agora em Caim chama atenção por retratar todo este universo de crueldade de um mundo com um deus vingativo, temperamental e cruel. Se o livro é bom ou ruim? Não sei. Ainda não o li. Mas está na minha lista para a Feira do Livro, (de nossa cidade?!). Sei de Saramago que de forma irônica vem há tempos pintando a literatura com textos críticos e se voltando contra toda forma de opressão da humanidade: seja social, religiosa ou política.
Gostar ou não gostar de Saramago. Ler ou não ler Saramago são questões que nos despertam para a liberdade que o ser humano exige em gritar sua.
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( Crônica publicada no Jornal Primeira Hora, em 06/11/2009 )

domingo, 1 de novembro de 2009

Eu Ladrão de mim


Acordo-me
e estou a roubar
sono sereno repousante da noite.
Levanto-me
e perco-me gesto inexistente
contemplação de existir.
Vejo-te
e roubo-me silêncio virginal
de não te conhecer.
Ao beijar-te
afano-me
imaculado direito de não
sentir o sabor de teus lábios.
Oh doce ventura
do gozo do não saber.
E ao te perder
Encontro-me
Eu ladrão de mim.
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( Republicando esta poesia para apreciação dos novos leitores. )