segunda-feira, 29 de março de 2010

Camaquã: Terra de Poesia


O homem que cavalga longamente por terrenos selvagens sente o desejo de uma cidade. E uma cidade não é apenas construída por seus prédios, suas ruas, seus muros e seu povo; mas também por sua poesia.
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A Camaquã poética começa com uma mulher de grande valor, que transcendeu os portões da cidade. Seu nome era Anna Patrícia Vieira Rodrigues César. Nascida no ano de 1864, na Fazenda Santa Rita, em suas andanças pelo Brasil foi a fundadora de várias academias feministas. Como em Manaus e Recife. Pode ser considerada uma das primeiras feministas do país. O jornal A Pátria, onde ela escrevia, fez um plebiscito perguntando qual a mulher que deveria ingressar na Constituinte e ela venceu. Sendo também a Patronesse da cadeira 31 da Academia Feminina do Rio Grande do Sul. Morreu no Rio de janeiro, em 1942. Ana César colaborou para diversos jornais, entre eles: O Globo, A Noite, O Rei da Manhã e Camaquam. E dirigiu as revistas Tribuna Feminina, Vida Social e Democracia. Entre sua obra encontramos os livros em prosa, Fragmentos (1931) e Farroupilhas (1935). Sua obra poética está em Folhas Soltas, Rosas Desfolhadas e Cromos:
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A mulher e a imprensa conduziram a humanidade, ampliando, iluminando os seus destinos. Em países onde a missão desses dois poderosos fatores é fielmente cumprida e exercida, a nacionalidade cresce e se avigora no caráter, na justiça e no dever. A Vida é um grande livro com páginas caprichosas, nas quais o destino traça os seus desígnios em várias tintas.
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A saga poética de Camaquã segue nos anos 70 com a presença de Laury Farias dos Santos, poeta e declamador tradicionalista. Nascido em 08 de março de 1930 foi um dos fundadores da Estância da Poesia Crioula. Representou a cidade durante muitos anos em Congressos Tradicionalistas por todo o estado. Seus poemas eram publicados em jornais como o Correio do Povo e nas antologias da entidade da qual fazia parte. Faleceu em 22 de maio de 1974. No ano de 2001 sua obra foi resgatada no livro póstumo, Versos Crioulos.
O precursor da poesia modernista camaqüense é Evandro Gomes, nascido em 11 de agosto de 1958, filho de Ederaldo de Souza Gomes, fundador da farmácia mais antiga da cidade. Evandro, em 1979, publica o livro poético Cacos & Insetos.
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. Reticenciamento
Quanto mais eu me concluo
Muito mais eu me improviso.
Resgato-me do dia de ontem E adio-me para outro século
E por lá invento meu próprio tempo
Num eterno reticenciamento de vida e solidão.”
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Atravessando os já idos anos 80, a poesia nativista teve seu destaque com dois grandes nomes da sociedade camaqüense: Bernardo Linck, com Eu sou o Rio Grande do Sul e Adroaldo Fernandes Claro, com Três Chamas e Transformações da Querência . Adroaldo é o atual Patrono de gestão da Capocam.
Em 1987, Álvaro Santestevan pública O Poder do Sótão & Cinco Poemas Amarelos. O idealizador da Casa do Poeta Camaqüense é natural de Encruzilhada do Sul onde nasceu no dia 05 de novembro de 1960, mas radicado em Camaquã desde 1968, o poeta é licenciado em Letras pela Fundasul e tem se dedicado a serviço da educação e da cultura durante vários anos. Em suas obras ainda consta o livro Poema é uma Criança Desobediente lançado no ano de 2006.
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Só o poema
O que somos sem o outro
o que pensar sem o pensamento alheio
não posso ser nada sem ser tudo
ninguém é inteiramente só
a solidão é uma falácia
somente o poema é que fabrica isolamento.
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No ano de 1989, ano em que completaria seus 125 anos, a cidade de Camaquã, pelas mãos de alguns, visionários recebe no dia 31 de março a sua Casa do Poeta Camaqüense, a Capocam. E em julho do mesmo ano já tem na obra de Catulo Fernandes, Viagem ao Fundo do Verso, a primeira publicação em suas saias poéticas. Catulo Fernandes nasceu em 08 de março de 1964 na Vila São Carlos. De suas palavras: “Minha única faculdade na vida foi a dificuldade vívida.” Podemos orgulhar-nos de encontrar aí um grande combatente das letras e da poesia, que em seu currículo cultural já ostenta ter sido Patrono da Feira do Livro de Camaquã em 2004, Patrono da Feira do Livro de Cristal em 2007, ser atual colunista do jornal Gazeta Regional, entre outras atividades no meio cultural. Ainda de sua autoria encontramos as obras: Escorado no Bar Cão (1991) A Bruxa Gorducha e a Vassoura Magricela (2005, literatura infantil) e em parceria com João Maximo Lopes: Camaquã, Terra Farroupilha. (2007)
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Verso subversivo
Nasci em março de 64
Família pobre e de respeito
Ai, ai...5 anos de idade
Em 1969 perdi meu olho direito
Ali naquele instante
Menino inocente
De visão esquerdista
Descobri que os comunistas
Não comiam criancinhas.
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Na saga poética camaqüense há muitos nomes ainda a contar, mas seria injusto a todos aqui aportar, pois entre muitos nomes conhecidos há por certo alguns de não se encontrar. Mas de dois nomes ainda quero lembrar. No ano de 1991 com a obra Título: Mulher, surge a poeta Inês Ramos Crespo que também muito se destaca em suas atividades, pela educação e cultural de nossa cidade. Atualmente exerce, entre tantas atividades, a presidência da Fundação Barbosa Lessa. Autora também de Rosa de Sal, em 2006.
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Gosto do querer tão manso
Com ânsia de terra quente
Do aconchego de menino
No teu corpo de descanso
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Encontramos entre nossos poetas o amigo, que muito orgulho e estima dá em nosso meio, ‘o vovô dos poetas’ Onélio Lopes Chagas que artesanalmente publicou a obra Terapias da Vida, e em 2005 o Terapias da Vida II. Exemplo de que a poética em Camaquã não tem fronteiras, pois anda de mãos dadas poetas com todas as idades. Como último feito desta tão onírica cidade poética, encontramos o Eclipses & Elipses, com o versejar dos jovens poetas Anderson Borba, Alceu Amaral, Leandro Martins e do amigo Carlos Eduardo, paulista, mas que deixou sua marca na poética desta terra de ruas, muros, prédios, gentes, mas também de sonhos e poesias.
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...................(Agora na integra o texto produzido por mim em 2007.)

quarta-feira, 24 de março de 2010

A droga


E acabei por provar a mais viciante das drogas
E quem pode me julgar?
No jogo dinâmico da vida as coisas acontecem
Às vezes é tão repentino que podemos nem notar
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Conheci a tal famigerada...
Diante das desventuras consegui achar algo a saborear
Parece uma espécie de capa alada
Transforma-me na intensidade antes tão desejada
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A escuridão inexiste
A lua é diária
E a luz persiste...
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No silêncio o coração palpita tão alto que se pode ouvir
A vida se torna uma alucinação repleta de cor
Isso sensibiliza e faz sentir
A força da maior das drogas, aquela que chamam de amor...
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( Dando espaço a um dos novos talentos de nossa cidade (Camaquã), publico este poema do amigo Ivens Iskiewicz)

domingo, 21 de março de 2010

O homem amarelo


São duas da manhã, o vento norte do ventilador empurrava as últimas gotas de um despertar com incongruentes manifestações de um sonho vomitado no primo sono do homem amarelo. As lembranças latejam espremidas em flashes mal esculpidos. O homem amarelo teve um sonho. Sonhou um mundo cinza. Apenas duas manchas castigadas pelo destino teimavam em existir. Manchas grandes em um pequeno mundo cinza que gritavam suas verdades diluídas em arrotos fantasmagóricos de enigmas ansiosos por se revelarem. Suas cores eram matizes irreais entre um mundo cinza real. O homem cansado deitou seu sonho cinza num canto qualquer de suas preocupações e voltou a adormecer...

Ao acordar sentiu a fraqueza de uma noite mal dormida e admirou-se no espelho. As rugas teimavam em esculpir uma nova face ao estranho a sua frente. O dia nublado prometia-lhe tediosas horas de busca e incompreensão.

O homem amarelo sorriu.

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..........................( ...continua.)

domingo, 14 de março de 2010

Lembranças de um amanhecer futuro


E quando nosso amanhecer
se distanciar no tempo
e a lembrança de um sorriso
for apenas
névoa
grão de areia ao mar
serei ainda como um louco
a correr pelo campo
gritando teu nome
aos céus
à lua
e às estrelas
feito o último anjo
perdido
a procura de teu beijo
silenciado
ainda imaginado.
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( Poema velho com uma roupagem nova...Velhos sentimentos que ainda vivem..)