sexta-feira, 31 de julho de 2009

Obituário


E o homem encontrou-se em uma dessas esquinas, que multiplicam as possibilidades, com o seu grande amor. Não fora o único, mas o de maior beleza, com maior significado.
Vestido em sua tristeza contemplou-a pelo sonhar de um instante. Ela, para ele, ainda uma moça pequena, de olhos negros, cabelos longos ao vento, esboçou-lhe um sorriso indiferente, que se perdeu em um instante de melancolia. E neste pôde ele sentir um beijo na face, de outros tempos, quando ainda jovem deixava-se levar por um tênue fio de esperança de viver uma grande paixão. Um beijo transformado em um delírio de abraço, quentes beijos, um amar insaciável entre carícias e descobertas.
Mas no singelo encontro não houve mover de lábios. Ele desviou o olhar e seguiu adiante para o calabouço de seus sonhos. Quem o contemplasse mais significativamente perceberia o frescor de uma lágrima a jogar-se atrevida em um cantinho qualquer de suas ilusões.
Ele ainda a veria uma, duas, ou três vezes nos anos seguintes. Ela cada vez mais vistosa, bela e contente. Casara, tivera filhos, um dos quais dera o nome dele.Fato que ele nunca parou para pensar o motivo, ou a irônica casualidade.
Em passos mansos o homem seguiu seu caminho, apegando-se em contemplar em sonhos o que um amor platônico não pode revelar à luz. Agraciado pela vida a não ter uma rabugenta velhice, morrera logo ali; menos por decisão do que circunstância propícia. Não houve choros prolongados, nem muita alegria, visto que não era dado a estas sentimentalidades e mantinha a todos a uma distância da cordialidade simplista.
Conta-se que alguns poucos amigos, que fizera na vida, foram ao seu funeral; os quais o homenagearam com uma lápide onde se lê: Poeta, nasceu, amou, não foi correspondido, viveu infeliz.
Em noites, nos bares poéticos, onde ainda cantam-se versos em honra do amar desenganado ainda lembra-se dessa história perdida e alguns amantes platônicos vão até sua lápide fazer chorar um violão em preces na vã esperança de uma recompensa a ser adquirida.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quintanares..


Em alguma colina
corres andarilho em suas travessias
anjo menino
voando em asas de Malaquias.
Poeta entre passarinhos,
musas, brincares
e quintanares
vestes as palavras ainda nuas
em lindos traços
de simples poesias
com vestes tão tuas
fazendo-nos alçar voo
em amores e fantasias.
E de tuas
há também de se lembrar
em belas e singelas ruas
que por hora ainda choram
tua partida
nas noites de cheias luas.

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( Homenagem publicada no Papiros em Homenagem aos 100 anos de Mario Quintana, a qual reproduzo aqui em sua memória pela passagem dos seus 103 anos no dia de hoje.)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sentimentalidades


Amigo
partes como
o lançar de um vôo
da última águia
a cruzar o céu
em um bater de asas de despedidas.
Segue o rumo de teus sonhos
embandeirado em tuas verdades
sem medos
desanimos ou meandros
apenas a procura de tua identidade
partes em busca de vitórias
a deixar teu rastro
e tuas glórias.
Sorriso largo
passos apressados
as vezes de amores enganados
já te vi (até)
entre um chorar envergonhado.
Amigo
partes tu
p-a-r-t-e-s de nós..
Em tardes de ventos
ao bombiar teu chimarrão
entre um sorver amargo
uma lembrança na garupa
um aperto chinchado no peito
solte o olhar pras bandas
de Camaquã
que aqui já está
quem te diga: - Um até breve
já num choro emocionado.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Reminiscências


As feridas de amor não se cicatrizam
elas disfarçam-se
ódio
indiferença
sagaz melancolia
amizade.
Um beijo não dado
um amor não partilhado
é como velas não alçadas ao mar
ficam presas num cais qualquer
amanhecer silencioso de espectadores
som das cordas de um violão
não transformado em canção..
e no rosto triste em uma multidão de sorrisos superficiais
repousa o frenesi dormente
da descoberta adormecida
falando de um amor não vivido
porque dos outros...
Ah, os outros
são reminiscências do passado...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O anel


Objeto de grato valor
as vezes dor
dor não de ferida
que machuca
na caída
mas de despedidas.
Objeto de grato valor
poís causa paixões
saudades, sonhos
e
ilusões.
Objeto ora prata
ora ouro
ora simples adorno,
nas mãos sempre
um eterno
encanto
entre tantos.